História de bolsa: Neverfull, da Louis Vuitton
A que aguenta tudo, verdadeira companheira da mulher ocupada, prova há mais de 15 anos que 'tote bags' são très chic
Histórias de bolsas que mudaram a História
Das super oversized até as mais pequenininhas, as bolsas carregam o legado das marcas ao longo do tempo. Enquanto camisas e calças vêm e vão, sendo facilmente esquecidas entre uma temporada e outra, alguns modelos do acessório (quando atemporais o suficiente) continuam no catálogo das etiquetas coleção após coleção.
2.55 da Chanel, Birkin da Hermès, Lady Dior, nomes que criam imagens mentais, despertam sentimentos e lembranças até mesmo de quem nunca chegou perto de uma loja dessas grifes. As bolsas são as marcas das marcas, até leigos conseguem identificar a origem. Acessório que dificilmente sai de moda. Peças que se torna clássica, nunca velha.
Como objetos de negociações, movimentam mais a economia do que muitas bolsas de valores por aí. Afinal, estão entre os artigos com o maior potencial de valorização do mercado de luxo. E assim, constroem sua carreira como artefatos históricos: ora mudam os rumos da indústria da moda, ora formatam códigos culturais, mas sempre reforçam o prestígio de suas etiquetas independente dos contratempos inevitáveis do mundo da moda.
Nesta série, investigo os detalhes das bolsas mais memoráveis de grifes clássicas para entender seu impacto na indústria e cultura de moda mundial. A personagem de hoje, aquela onde se cabe tudo: Neverfull, da Louis Vuitton.
Nunca cheia?
Lançada na coleção primavera/verão de 2007 e assinada por Marc Jacobs, o diretor criativo da marca na época, a Neverfull não apareceu em nenhuma passarela. Foi apresentada diretamente ao mercado como a proposta era de ser um modelo prático e versátil. Inclusive, sua atemporalidade se apoia no tripé: funcionalidade do design, alta qualidade e timing de lançamento.
O nome (autoexplicativo) se refere a aparente capacidade infinita da bolsa, que chega a ter 39cm de comprimento em seu maior modelo e pode ser ajustada por cordões laterais. Embora as versões mais recentes apresentem dimensões menores e incluam acessórios compactos, continua sendo opção ideal para quem quer ter tudo sempre à mão ao sair de casa.
Funcional, sim, trivial nunca!
Falar em luxo é falar em qualidade, isso é fato. Mesmo assim, a Neverfull se destaca neste quesito: com apelo comercial na praticidade, dizendo caber tudo dentro de si, é bom que aguente o tranco. Com o interior em lona revestida, acabamentos em couro natural e detalhes em metal, a bolsa é fabricada pelas mãos de artesãos qualificados, que seguem os rigorosos padrões de qualidade da marca. A produção de uma única Neverfull pode levar até 3 semanas.
A excelência, porém, tem preço (óbvio). No Brasil, a Neverfull média clássica em canvas monogram custa cerca de R$12 mil, podendo chegar a mais de R$16 mil nas versões mais novas e limitadas. Garimpando, é possível encontrar exemplares por cerca de R$ 5 mil.

Movimentação do mercado
Embora nascida no início de uma das crises econômicas mundiais mais profundas, que abalou o século XXI logo nos seus primeiros anos, a Neverfull participou de um importante movimento de consolidação internacional da marca. Afinal, os anos 2000 a Louis Vuitton acabara de passar por décadas de expansão para mercados emergentes, atraindo públicos mais diversificados. China, Japão e até o Brasil eram (e ainda são) polos promissores no consumo de moda e foram países que receberam lojas da Vuitton entre as décadas de 1980 e 2000.
Com essa peça, a Vuitton conseguiu aliar diferentes demandas dos consumidores à época: o status que um item com cara de tradicional LV pode trazer, importante para driblar as ansiedades de momentos de incertezas econômicas; e a modernidade de uma peça prática e funcional, características bastante apropriados diante de um movimento de maior consciência e cautela do consumidor.
Contextos dramáticos à parte, a Neverfull caiu nas graças de celebridades que, assim como os influencers de hoje, pautavam o que se usava nas ruas. Angelina Jolie, Reese Witherspoon, Jessica Simpson são caras frequentes das capas de revistas, flagradas por paparazzi com a NeverFull no ombro.
Em menos de 20 anos de lançamento, e quase impossível andar pelas ruas do bairro Higienópolis, em São Paulo–SP, sem cruzar com alguma mulher usando a Neverfull tradicional na correria do seu dia. Mesmo assim, a queridinha das mulheres clássicas, maduras e atarefadas, foi reinterpretada várias vezes, atraindo até os gostos mais excêntricos. De parcerias com artistas contemporâneos como Jeff Koons e Takashi Murakami a edições em tamanhos pequenos e mini, os lançamentos especiais contribuem para manter a relevância da bolsa.
A Neverfull está longe de ser a bolsa mais tradicional da LV. A Speedy, que foi lançada em 1933 com o nome Express como uma versão compacta da clássica mala Keepall, parece não perder sua relevância tão cedo. Ela, inclusive, também tem muita história para contar. Sua irmã mais nova, porém, assume o posto de mais vendida e a que conseguiu provar que tote bags podem, sim, ser elegantes.
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